quarta-feira, 19 de março de 2014

Lesão física e mental

Cada vez mais procuramos qualidade de vida e o nosso bem estar, daí sermos cada vez mais uma comunidade enorme de atletas.

Para iniciar o atletismo, basta apenas que se decida - SER FELIZ!

O acto de corrermos diariamente diminui os níveis de stress e a sensação é de total e completo bem estar físico e psíquico.

Mas há que ter em atenção que esta sensação de prazer despertada pelo acto de correr, faz com que muitas vezes nos excedamos nos treinos e competições... e lá vêm as lesões desportivas.

O problema, está, em que esta lesão física não surge isoladamente, esta normalmente vem com toda a parte emocional agregada, uma vez que somos obrigados a parar o treino e  toda a rotina desportiva já criada

A sensação de "raiva", impotência, tristeza, medo, fadiga, negação, baixa auto-estima e até mesmo estado depressivo são as reacções psicológicas sentidas.


À que treinar a mente quando não podemos treinar o corpo...

Realizei o sonho de fazer uma maratona... agora encontro-me na fase de treinar a mente ...

Mas como um dia me disseram:

Sorri sempre,
Porque mais triste que o teu sorriso triste 
É a tristeza que não sabe sorrir!






quarta-feira, 5 de março de 2014

Correr, pensar, sofrer e viver a primeira maratona


Resolver fazer uma maratona, enfrentar os 42 Kms de corrida, não é tarefa fácil, no entanto, nada é impossível. Pelo sonho é que vamos!

A Maratona exige uma dedicação muito maior, não só a nível físico (treinos adequados) como a nível de preparação psicológica, que fazem com que cada maratona seja única.

Comecei a sonhar em fazer a minha primeira maratona, no dia em que fiz a Meia Maratona da Ponte Vasco da Gama (6 de Outubro de 2013) e que depois acabei por fazer perto de 32 Kms pois após a meia maratona, fomos acompanhar a Isa nos seus últimos 11/12 Kms da sua primeira maratona. A coisa correu bem e senti-me bem... o que me deixou a pensar...
Nesse mesmo dia recebo um e-mail da Isa e do João do qual partilho aqui parte (não está na integra porque era algo grande) : 

“...Isadora Costa (mundialmente conhecida por Isa) e João Lima (mundialmente conhecido por João Lima) vêm apresentar a seguinte proposta a Sandra Martins (aka Sininho) e Nuno Espírito Santo (aka NES).
O que pedimos especialmente à Sandra, é que leias este mail com muita atenção, de mente aberta, sem ideias preconcebidas e nunca esquecendo que muitas grandes ideias partiram de algo que não parecia possível ou exequível.
Posto isto, é opinião dos signatários desta petição que a Sandra tem capacidades para fazer uma Maratona....
...23 de Fevereiro, Maratona de Sevilha, alinham?”

E foi assim que eu e o Nuno tomámos a decisão de nos inscrevermos...

Já corro desde 2003, faço provas quase todos os fins de semana, desde as de mais pequena distancia às meias maratonas. São muitos anos e muitas provas nas pernas... Já era chegada a hora de fazer a prova rainha.

A Maratona:

As razões para fazer a maratona podem ser as mais diversas, no entanto a necessidade de dedicação de um período mínimo de 3 meses é igual para todos. Não é fácil, mas a compensação final em nada se compara com a de terminar uma prova de pequena ou média distância.

Foram 3 meses de alguma concentração de alguns treinos maiores e de alguns treinos de séries. Infelizmente no ultimo mês as coisas não correram da melhor forma, porque a gripe não deixava, mas tudo se fez para que a preparação fosse minimamente aceitável.
Apesar de tudo isto, sentimos sempre que não é suficiente, que faltou ainda muito treino... o sentimento de culpa começa a fazer-se sentir... mas... não há nada a fazer senão enfrentar a situação de frente.

A Maratona começa a produzir em nós alterações e sensações muito antes do tiro de partida. 
Na semana anterior, os nervos apoderaram-se de mim, o que acabou por influenciar o Nuno que não consegue ver-me sofrer. Ao aperceber-me de que estava a deixa-lo demasiado angustiado com a situação, tomei uma decisão... Não pensar mais no assunto, não pensar nem falar mais nada até ao momento da partida, foi a  melhor coisa que poderia ter feito naqueles dias que antecederam o grande dia.

Fomos muitos para Sevilha, e estarmos rodeados de bons amigos, deixaram-me mais tranquila  e descontraída.
A nossa selfie a caminho de Sevilha- João e Mafalda, Eu e Nuno, Orlando, Nora e Margarida, Isa e  Vitor, Joana e Ricky
O Dia D:

A técnica de “esquecer” o assunto deu resultado, porque me fez fingir que nada se passava a não ser uma simples corrida igual a tantas outras, mas um pouco mais longa...
Dormi bem, estava calma até ao momento em que nos deslocámos até ao estádio de Sevilha...
Mas nesses momentos que antecedem a corrida a circulação sanguínea aumenta, os músculos que estão prestes a trabalhar, a respiração acelera,  a adrenalina sobe aos picos, o que não é mau de todo, uma vez que a adrenalina prepara o organismo para esforços físicos exigentes, estimula as funções do coração e eleva a tensão arterial. Tudo em função de um organismo pronto a responder aos desafios do momento.
Quase que podia sentir a adrenalina a correr pelo corpo quando nos estávamos a dirigir para o local da partida.
No entanto olhar para o Nuno e sentir a sua tranquilidade (muita experiência, muitas maratonas) deu-me mais confiança.. eu sabia que iria ter a sua companhia, era mais um projecto a dois a partilhar do princípio ao fim.
Por outro lado, era muito agradável podermos estar junto de muitos amigos, na linha de partida.
A nossa foto de grupo:Eu, Orlando, Isa, Vitor, João e Nuno

A família ACB antes da partida

Os que faltavam na nossa foto : Afonso, Eu, Vitor, Pedro e Nuno

Lá vamos nós para a partida...

Dá-se o tiro de partida, quando a prova dá inicio o meu organismo está em constantes alterações de stress. Penso que me doí tudo e que não pode doer... Tão depressa sinto uma dor no pé, como já sinto nas costas... como uns kms mais a frente já nem me lembro do que me queixava...

Passam os primeiros 10 Kms de forma tranquila. Voltamos a ver os nossos amigos que nos estão a apoiar... Fico preocupada com os restantes que correm, nomeadamente com o João que saiu a correr de forma desenfreada sem dizer nada a ninguém... Desejava muito que a prova corresse bem a todos... que fossemos muito felizes... mas ainda faltavam 32 kms... o que se iria passar?

Eu e o Nuno falávamos e corríamos de uma forma solta... ele começa a facultar-me os abastecimentos aos 10 Kms, estava a ser uma ajuda preciosa... conversando, mantendo-me tranquila, indo buscar águas... e a velocidade era certinha... entre os 5:50 e os 6:10... lá ia eu sem me sentir cansada... mas apenas um pouco nervosa, ainda...

Aos 15 Kms voltamos a passar no meio de tantos amigos que nos aplaudem e tiram fotos... e aí sinto um pequeno cansaço (fruto do receio)... tomo o meu primeiro gel e recupero... e... a partir daí... só vos digo que por incrível que pareça... os kms foram passando de forma tranquila e eu sentia-me muito bem.
Posso não ter velocidade, mas tenho uma coisa a meu favor... tenho resistência e sou capaz de correr durante muitos e muitos kms sempre naquela mesma velocidade certinha, sem quebrar. Basta encaixar aquela “mudança” e lá vou eu... não posso ir nem mais devagar nem mais rápido... tem de ser aquela velocidade certa para aquela distancia, sempre sem sair dali, sem parar nem acelerar...

Chegamos à meia maratona e passo pelo João que me deixa um pouco receosa... pois vi-o a andar... mas ele diz que está tudo bem e que vai terminar... dá-me um sorriso enorme e eu acreditei :)

Continuo a sentir-me muito bem... O Nuno ia entretido a verificar os tempos de passagem a cada 10 kms e ia vendo como corriam as coisas... e as coisas não podiam estar melhor... estávamos sempre na mesma média de uma hora e um em cada 10 kms...

Aos 25 kms aparece uma recta grande no qual o Nuno se queixa, porque o transito estava a rolar no sentido contrario e a poluição era um pouco maior... mas eu estava tão entusiasmada com tudo o que se estava a passar que lhe disse que já iríamos passar para outra estrada... e assim foi...

Chegados aos 30 Kms... Começa a verdadeira maratona... começam as bandas musicais a aparecer, começam as bancas de sólidos.. começa a aparecer cada vez mais publico, começamos a passar pelas partes históricas e com muito mais publico. Julgo que seja tudo pensado ao pormenor, pelo menos assim o entendi.
Começo a passar por alguns amigos que conhecemos, sempre trocando palavras amigas e de muita força... 
O Cansaço começa a invadir os atletas que começam a andar ou a correr de forma mais lenta... mas eu... o que se passa comigo? Nesse momento, continuamos a correr como se nada fosse... chegamos a tocar nas mãos de algumas crianças que alegremente nos pediam que o fizéssemos... e continuávamos a passar cada vez mais pessoas...
Começo a sentir que a segunda meia está a correr melhor que a primeira... estou quente muscularmente e calma, não me sinto cansada... sinto-me feliz, muito feliz...
Mas o meu pensamento era sempre o mesmo... Onde está o tal “muro” de que tanto falam? E todas as dores que sentimos e todos os pensamentos menos bons e má disposição? Não faço ideia... mas estava com tanto medo.... Nunca tinha passado a barreira dos 30 kms... e portanto... algo de muito estranho se estava a passar... 

Mas aos 34 Kms disse ao Nuno – “É agora, estou a começar a ficar cansada...” ao que ele me diz para tomar o gel dos 35 Kms... porque me iria sentir melhor... e assim o fiz... É claro que o cansaço começava a aparecer, mas nunca baixei a velocidade... ela era instantânea... saía dos pés sem esforço, mesmo cansada (estranho mas real). Nesse mesmo instante, começámos a correr dentro de jardins lindíssimos, passamos a Praça de Espanha, que é uma paixão aos nossos olhos... é lindíssimo... e aí, começam os sentimentos a falar mais alto... Começo a ouvir gritar pelo meu nome  como se fosse a primeira atleta a passar por ali... O publico vibra com a prova e faz-nos sentir nas nuvens... 
Começamos a ter pouco espaço para correr naquela zona histórica da cidade, porque o publico está ao rubro puxando por nós... e aí... as lágrimas de emoção apareceram... O Nuno em cada abastecimento ia encher a garrafa de água que trazia desde inicio, o que me facilitava a beber, porque a partir de meio da prova os abastecimentos passaram a ser em copo... E num desses abastecimentos os voluntários chamavam-me para beber água, para não deixar passar... e eu agradeci, mas o meu "mais que tudo" já tinha tratado disso.

Aos 38 Kms comecei a saturar um pouco e já não conseguia responder nem agradecer ao esforço do publico, pobres apoiantes que não tinham culpa nenhuma, mas o cansaço fazia com que eu já não conseguisse ouvir nada... A não ser algo que me fez emocionar, uma vez mais, a mim e ao Nuno... Uma mãe colocada num local estratégico, que tinha uma barriga de grávida já muito grande, colocando-a à vista e mostrando o que tinha escrito – “FORÇA PAPÁ!” ... e nem de propósito... o pai dessa “barriguinha”  estava a nosso lado e deixou a prova por instantes para dar um beijo carinhoso ao seu filhote que já vibra com o pai, mesmo ainda na barriga da mãe.

Chegamos aos 40 Kms... e faltam dois... olho para o relógio e vejo 4h05... mantemos sempre aquele ritmo certinho... e penso que seria possível tentar chegar antes das 4:20... Uma vez mais o Nuno pensa o mesmo que eu... e lá vamos nós... Agora sim... já doía alguma coisa... mas a emoção, a sensação de apenas faltar 2 kms e qualquer coisa... fez-nos esquecer tudo...
Tenho na lembrança que tudo a minha volta a partir dos 34 Kms era muito bonito, mais bonito do que até aí... Era uma muito boa sensação... de beleza, prazer, dever quase cumprido...

E eis chegados aos 41 Kms e o estádio já está a vista.... aí o Nuno emociona-se e eu finjo que está tudo bem... mas a minha cabeça e coração estão num turbilhão de emoções... Começo a sentir o coração a disparar... está quase...

Entramos pelo túnel que dá acesso ao estádio e vejo uma vez mais os filhos do João (que fizeram muitos kms numa correria para nos apoiar em todos os locais possíveis)... entramos no estádio... e .... aí começo a ter dificuldades em respirar... a emoção era demasiado forte...

Mas eu e o Nuno aceleramos até a meta... estávamos a cumprir o sonho... o desejo destes meses todos... E dentro do tempo desejado por ambos após os 40 kms, mas que nunca sonhado antes de começar... Sonhámos em baixar das 5 horas... mas nunca o tempo magnifico que fizemos ( de notar que foi de longe o pior tempo feito pelo Nuno, atleta de menos de três horas na maratona, mas que acredito que para ele também foi uma grande vitória minha/nossa).

Cortámos os dois a linha da meta e... foi o momento de muitas emoções fortes: muito orgulho, alegria, amor, carinho, cumplicidade e muitas lágrimas de felicidade... 
Podemos  já ter partilhado muitas provas juntos, mas a maratona é realmente a prova rainha, cruzar a linha de chegada não tem preço.
É uma sensação única e todo “sofrimento” durante a prova e treinos desaparecem  ao completar a maratona. 
É um sentimento de vitória, de diversas sensações e emoções nunca sentidas, independentemente do lugar em que chegamos. 
Missão mais do que cumprida. É uma conquista muito minha mas também da minha "cara metade", pois sem ele... não seria possível.

O registo do meu Garmin

A medalha que vale ouro e com sabor a muitas lágrimas de felicidade mútua


É muito gratificante, pois a sensação de fazer o que muitas pessoas julgam impossível é única. É uma conquista muito pessoal que servirá de crescimento pessoal para tudo na nossa vida.
No final de tudo... ver  e saber da chegada de todos os meus amigos queridos que estavam na linha de partida comigo, foi algo de indescritivelmente maravilhoso! Fiquei tão feliz e emocionada quanto com a minha chegada!

Muitas emoções que falam por si. O facto de todos termos conseguido este objectivo foi maravilhoso e em especial o João, meu grande amigo do peito  - acreditou e mereceu !
Parabéns a todos!

As nossas merecidas medalhas

Por opção minha, foram muito poucas pessoas que sabiam desta minha aventura (até porque devido a diversas vicissitudes, não tinha a certeza se poderia realmente participar), agora deixo o meu muito obrigada a todos os que me apoiaram e mesmo a todos os que não sabiam e que fizeram da minha felicidade a felicidade deles quando o souberam.

E como diz alguém igualmente especial:

"Instrução dura, combate fácil"


Acho que fui contaminada pelo "vírus" da maratona!  E tu?